Um médico, recém formado, foi para uma cidade interiorana cumprir sua residência. Lá chegando, repara que a cidadezinha tinha uma população bastante eclética: muitos velhos, poucas velhas, muito homem feio, pouca mulher e as poucas que tinham eram horrorosas e, em sua maioria, casadas, desdentadas, barrigudas, e despencadas. Seis meses se passaram e o dotôzim já não aguentava mais enforcar o ganso; suas mãos eram calo puro. Foi quando resolveu perguntar pra um de seus clientes habituais do posto de saúde onde atendia: - Como é que vocês fazem para se "aliviar" por aqui? - Ara, Dotô, nóis vai na moita e pronto. - Não é isso - replicou o médico - Tô falando de molhar o biscoito; dar um tapa na peteca; furunfar! - Ah! Então é isso? à muito fárciu. Nóis vai na mulinha, sôr. - Mulinha? Que negócio é esse? Vocês estão muito atrasados, uma coisa dessas! - Pois é assim mesmo, Dotô. Quando nóis tá "atrasado", nóis vai na mulinha. O sinhô divia isprimentá. O treim é bão mesmu! - De jeito nenhum! Eu um médico formado, esclarecido... não vou não! Passaram-se mais seis meses e o coitado já tava ficando verde de tesão e nada de uma pombinha. Já desesperado, resolveu apelar pra única alternativa: a mulinha. Procurou informação e descobriu que a mulinha ficava estacionada na beira do rio da cidadezinha e pra lá foi. Havia uma fila de pelo menos trinta marmanjos, esperando sua vez. Quando viram o Doutor, foi aquela ovação: - Oia o Dotô aÃ! Num deixa ele na fila não. Passa na frente de todo mundo, afinal é o "Dotô"! Já na cabeceira da fila, muito constrangido, deparou com a famosa mulinha, segura por uma cordinha, na mão de um peão. - Vai Dotô, vai - Gritava a peãozada - Vai qui nóis já tá aqui um tempão esperando! Sem outro jeito, e necessitado que tava, baixou as cuecas e traçou a mulinha. A Homaiada ficou perplexa e muda. Findo o ato, o peão da frente exclamou: - à Dotô, o sinhô tava a pirigo mesmu! A mulinha é só pra atravessá o rio. A Zona é do outro lado!